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O autoproclamado fã número 1 do Iron Maiden mora em um sobrado humilde no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo. Fanático pelos metaleiros desde a década de 1980, Marcos Motolo, 36, diz ter feito 172 tatuagens da banda por todo o corpo e, como se o feito não bastasse para provar sua devoção, ainda registrou o filho de dez anos como Steve Harris em homenagem ao lendário baixista do grupo. Mas, da turnê recente do Maiden pelo país - que se encerra nesta terça com um show em Recife -, Motolo conta que não conseguiu ver nenhum show. Estava ocupado demais pregando a palavra de Cristo como pastor evangélico.
Personagem do documentário "Flight 666", filme oficial da banda britânica de heavy metal que tem estreia nos cinemas prevista para o mês que vem, o pastor metaleiro não renega o seu passado. Em vez disso, tem usado sua história pessoal para "semear no deserto", ou ainda, "levar a palavra de Deus às pessoas que não estão preocupadas com isso".
Em um culto evangélico realizado há dez dias, em Suzano, município da Grande São Paulo, vestindo um terno preto que cobria algumas mas não todas as tatuagens, Motolo intercalava com desenvoltura versículos da Bíblia com a promoção de sua participação no documentário internacional. "Será a primeira vez que a palavra de Cristo vai chegar a países como a China ou a Rússia", prometia entre "glórias" e "aleluias" aos fiéis, muitos dos quais provavelmente jamais haviam ouvido falar de Iron Maiden - muito menos da temática demoníaca de muitas das letras da banda.
Convertido há apenas quatro anos, Motolo não vê problemas na mistura do sagrado e do profano. "O interessante é você saber diferenciar cultura de religião. Se a pessoa é evangélica e toca numa banda de rock, ela não precisa parar de tocar. Mesmo que [a banda] fale de Satã. Aquilo é a profissão dela, lá ela é empregada", defendeu o pastor e missionário - termo usado àqueles que não pregam apenas em uma única igreja - em entrevista ao G1 pouco antes do início da pregação.
"Se a pessoa souber curtir o heavy metal ou qualquer coisa, pode ser até funk ou futebol, sem se envolver em coisas que destruam sua saúde, é bom. Os caras do Iron Maiden, por exemplo, são inteligentes. Eles tocam heavy metal, mas quando o show acaba, eles vão tomar um Gatorade ou um suco. É por isso que estão vivos até hoje. Já o Nirvana fez dois anos de sucesso e o vocalista se matou. Por quê? Porque ele não soube diferenciar a vida particular dele da vida em cima do palco", teoriza.
trecho de matéria no G1.
dica do Mauricio Boheme
1 comentários:
Eu consigo admirar musicalmente um artista não-cristão sem idolatrá-lo ou defender suas escolhas pessoais e filosofia de vida, que é o que muitos deles cantam em suas letras.
Reconheço a importância musical do Iron, mas não sou fã. Há outras bandas de rock cujos trabalhos coleciono com muito prazer.
Não discordo totalmente do pastor-metaleiro, mas jamais colocaria o nome deles no meu filho, ou me encheria de tatuagens e vestiria capa preta para imitá-los. Isso já é exagero. Penso até que é idolatria. Do mesmo tipo daquela que se pratica no meio evangélico com cantores do gospel.
(Grosso modo, não vejo diferença entre um artista gospel e um não-gospel. Com excessões de ambos os lados, todos jogam o mesmo jogo, são farinhas do mesmo saco.)
O Lázaro, que é a nova onda aqui no Brasil, outro dia pediu um helicóptero para levá-lo da igreja onde iria se apresentar ao aeroporto. Esse povo deixou de ser gente e viraram semi-deuses. E eu prefiro a simplicidade de um Sérgio Reis ou Renato Teixeira às "santas orgulhadas" desses adoradores de multidões.
Penso que em tudo é aplicável o princípio, julgai todas as coisas e retende o que é bom.