Autor: Rubens Muzio
Num dos seus últimos artigos[1], David Bosch escreve sobre 5 diferentes tradições na relação entre igreja e autoridades civis. Baseado no Kairos Document encabeçado por um grupo de Teólogos da África do Sul, Bosch descreve 5 atitudes quanto ao governo que poderiam ser chamadas de "Constantinista", "Pietista", "Reformista", "Liberacionista", e "Anabatista".
O primeiro modelo é chamado Constantinista. Ele exemplifica um tipo de teologia do estado, um modelo que pressupõe uma relação íntima entre igreja e estado, entre organização religiosa e a cultura da época. Esses líderes admiram o status quo, seus valores, tendências, estilos de vida, suas relações e classes sociais. Eles procuram estar próximo ao centro da cultura. A igreja procura manter uma relação íntima entre trono e altar semelhantemente aos tempos que se iniciaram quando Constantino legalizou e religião cristã no quarto século.
O segundo é o modelo pietista. Nesta perspectiva, religião e estado estão completamente separados um do outro. A missão está estritamente interessada nas necessidades espirituais das pessoas. Questões sociais, políticas, econômicas e culturais não são da alçada da igreja. A igreja é apolítica, voltando-se exclusivamente para as questões do mundo espiritual. Líderes com esta mentalidade podem até mesmo construir hospitais, creches e escolas. Entretanto, a principal função deles é adicionar membros à igreja através da utilização das mais variadas técnicas evangelísticas. Não trabalham duro para transformar o mal estrutural da sociedade.
Ambos modelos constantinista e pietista, pois tem como pressuposição o distanciamento e desarraigamento da fé cristã com as coisas desta vida. O que acontece no mundo, nas nações e culturas tem pouco ou nada a ver com a igreja-em-missão, seus líderes e ministérios.
O terceiro modelo é o reformista. Os reformistas na sua maioria procedem das igrejas protestantes históricas e evangelicais. Eles enxergam a missão da igreja como sendo essencialmente salvação de almas e plantação de igrejas. Certamente, isso também inclui o fortalecimento dos valores sociais e morais, mas não é prioridade da igreja. Há algo de muito atraente neste modelo. Frequentemente, ele impulsiona justiça, liberdade e prosperidade. Entretanto, os reformistas tendem a permanecer à mercê da boa vontade do governo. Além disso, esses líderes funcionam melhor em contextos onde pertencem às classes mais privilegiadas da nação. Bosch acredita que a posição reformada, apesar de ser convincente como cristã pela sua aparência espiritual, não consegue detectar imediatamente o mal estrutural intrínseco presente nas culturas e sociedades humanas.
O quarto modelo é chamado liberacionista. Ele advoga a confrontação direta com as forces do mal ao invés de reconciliação com o pecado. Missão significa uma opção preferencial pelo pobre e oprimido. Suas atividades são missionárias e evangelísticas não no sentido de conversão dos não-cristãos à fé evangélica, mas no sentido de restauração da credibilidade do evangelho no meio dos pobres e marginalizados, mobilizando-os na luta contra a injustiça. A função principal da igreja é o confronto e denúncia da cultura e libertação das vitimas e oprimidos.
O quinto modelo é o anabatista, em homenagem ao ramo anabatista descendente da Reforma do século XVI. A tarefa principal da igreja é simplesmente ser igreja, uma verdadeira comunidade de crentes comprometidos que, pela sua própria existência e exemplo, tornam-se um desafio para a sociedade e cultura. Missão significa implantação de igrejas que abracem este padrão de conduta. A igreja é um tipo de anticorpo na sociedade, vivendo como uma comunidade alternativa, engajada num estilo de discipulado radical.
MIAF BRASIL
--------------------------------------------------------------------------------
[1] Bosch, David, God's Reign and the Rulers of this World. P.90-92
1 comentários:
A PAZ, BONITO BLOG QUERIA FAZER PARCERIA DE BANNER, VISITA O MEU BLOG SE GOSTAR DEIXA UM RECADO LA CONFIRMANDO A PARCERIA http://ochamadoeoide.blogspot.com