CHAT - JOVENES - LA ROCA DE HOREB

Author: Missão Venezuela
•18:26
Author: Missão Venezuela
•14:49

Vídeos

Vídeo documentário sobre o trabalho de tradutores Bíblicos, produzido pela Wicliffe: 1/2.

continuação: 2/2

A necessidade de tradutores Bíblicos pelo mundo: 1/2

continuação: 2/2





Fonte: Trodutores Bíblicos
Author: Missão Venezuela
•14:40

Confira o ranking das línguas mais faladas no mundo.

Mandarim – falada por pelo menos um bilhão de pessoas, compreendendo a maior nação do mundo em número de habitantes por quilômetro quadrado.

Inglês – língua falada por cerca de 510 milhões de pessoas.

Híndi – língua falada por 500 milhões de pessoas e compreende a língua indiana.

Espanhol – falada por 400 milhões de pessoas.

Russo – língua falada por 280 milhões de pessoas.

Árabe – língua falada por cerca de 250 milhões de pessoas.

Bengali – da Índia. Língua falada por 210 milhões de pessoas.

Português – língua falada por 190 milhões de pessoas.

Indonésio – língua falada por 180 milhões de pessoas.

E, finalmente:

Francês – língua falada por 130 milhões de pessoas.

Fonte: http://ronyvaldo.wordpress.com/

Author: Missão Venezuela
•14:35

Tendo em vista o momento histórico em que vivemos, em que Deus tem chamado homens e mulheres em todo Brasil para levarem as boas novas do Reino a outras culturas, creio que seja oportuno considerarmos um dos elementos essenciais para atravessarmos as barreiras culturais que nos separam desses diversos grupos: a aprendizagem de língua em idade adulta. Porque é necessário aprendermos a língua do povo a quem queremos nos dirigir?

Cursos de missiologia, e principalmente de antropologia e missões, têm nos conscientizado da importância de apresentarmos o Evangelho de maneira relevante nas diversas culturas. Precisamos revelar às etnias não alcançadas o ato redentor de Cristo, a vida nova e eterna que nEle temos de maneira que possam compreender, e sem exigir que o comportamento resultante dessa revelação seja igual ao nosso, enquanto apenas um comportamento culturalmente definido como apropriado.

Ora, como saberemos quais comportamentos são relevantemente apropriados como conseqüência do evangelho sem uma longa exposicão à cultura e um entendimento profundo da visão de mundo do povo? Isso só pode ser conseguido se nos dispusermos a ouvir o que eles têm a dizer, o que implica em conhecer bem sua língua. Por isso, ao sairmos do Brasil, precisamos ir com uma atitude formada de que temos muito a aprender. É essencial que nos lembremos que Deus não somente ama o povo que deve ser alcançado, Ele já está presente em seu meio, pelo simples fato de ser onipresente, e que é exatamente por causa desse amor que Ele nos envia. Não somos nós que levamos Deus a um povo, Ele já está lá, e portanto é Deus que nos leva a eles. E esse mesmo Deus é quem vai nos capacitar a enfrentar a tarefa de aprendermos a língua e compreendermos a cultura desse povo de maneira a comunicarmos as boas novas de Seu amor por palavras e ações.

CAPACIDADE OU ESFORÇO

Todos nós somos capazes de aprender línguas e já provamos isso pelo simples fato de que falamos pelo menos uma língua. É comum a idéia de que crianças em todo o mundo, em condições normais, “aprendem a falar” em aproximadamente dois a três anos. Apesar de continuarem seu desenvolvimento linguístico até a adolescência, com uma média de dois a três anos já encantam seus pais e os que com eles convivem com sua capacidade de expressão. A maneira como esse processo de aquisição de língua se dá tem sido motivo de um longo debate entre lingüistas, mas o fato é que é impressionante a “facilidade” com que a maioria de nós aprendeu a se expressar quando criança. No entanto, quando chegamos à idade adulta e queremos aprender outra língua, a coisa parece não ser tão fácil. Horas de estudo, listas de palavras e regras gramaticais são memórias não tão agradáveis para muitos de nós. Mas, se fomos capazes de aprender nossa própria língua, o que aconteceu que temos tanta dificuldade de aprender outra? Decerto muita coisa! Em primeiro lugar, como adultos, nossas necessidades já são supridas, ou seja, se não aprendermos a outra língua e não mudarmos de ambiente, continuaremos a sobreviver perfeitamente. Em segundo lugar, nossa experiência de aprendizagem de segunda língua se limita na maioria das vezes à escola e suas exigências. Em outras palavras, nossa motivação que antes era a sobrevivência foi muito diminuída. E língua que antes era um meio para o relacionamento com outras pessoas foi reduzida a um objeto de estudo em sala de aula. Acontece que motivação é exatamente a coisa mais importante na aprendizagem de línguas e língua é muito mais do que uma “matéria de escola”! Língua é e sempre será o vínculo que nos liga em sociedade, uma ponte a outros seres humanos e suas idéias. Portanto não é a falta de capacidade que se evidencia quando temos dificuldades com uma segunda língua, e sim a falta de uma motivação que gere um esforço suficiente para que a aprendamos. Embora existam pessoas com maior aptidão para a aprendizagem de línguas, autores concordam que havendo motivação suficiente para nos relacionarmos com um grupo, isto determinará mais do que qualquer outro fator nosso sucesso ou não em aprendermos a sua língua.

APRENDENDO A OUVIR

A afirmação de que a motivação é o fator mais importante na aprendizagem de uma língua é encorajadora. O missionário que vai a outra cultura deve perceber logo a importância da língua como seu vínculo àquela sociedade, o que o deveria motivar o suficiente a aprendê-la. Porém, sem dúvida há outros fatores além da motivação envolvidos no processo. O primeiro fator que queremos mencionar é que precisamos re-aprender a ouvir. De acordo com Jean-Yvon Lanchec,[1] ao aprendermos a falar, perdemos um pouco a capacidade de ouvir. Nossos ouvidos ficam tão treinados a ouvir os tipos de som de nossa língua que não ouvimos bem os sons de outras línguas. Como exemplo, falantes do alemão ouvem bem os sons médios, mal os sons agudos enquanto que falantes do espanhol ouvem muito bem os sons graves e falantes do inglês ouvem bem os agudos. O sotaque em outras línguas nem sempre é uma falha na produção, quando uma pessoa está tentando falar um som que ouviu. Muitas vezes reflete a incapacidade de ouvir bem e diferenciar os sons. Como exemplo podemos citar que muitos brasileiros produzem o “think” (pensar) do inglês da mesma maneira que produzem “sink” (afundar), porque em português não temos o som do “th” dessa palavra do inglês. Como o que ouvimos parece com o “s” inicial das palavras em português, na hora de produzirmos, utilizamos o “s”. Se às vezes nem conseguimos ouvir que há uma diferença, como resolver esse impasse? Creio firmemente que duas coisas são essenciais: a consciência de que precisamos gastar muito mais tempo escutando atentamente e a ampliação da nossa percepção de sons diferentes. Precisamos reaprender a ouvir. Como adultos participantes de diálogos na nossa cultura gastamos muito tempo falando. Quando chegamos a outra cultura temos de passar um bom tempo calados, observando e aprendendo, o que é uma mudança de comportamento à que temos de nos adaptar. Para a ampliação de nossa percepção, deveríamos ser expostos à fonética internacional de modo sistematizado, o que é possível através de um curso de fonética. Isso não quer dizer que vamos todos nos tornar professores de fonética, mas sim que aprenderemos a ouvir as diferenças de modo a identificá-las nas outras línguas. Uma vez identificadas as diferenças, teremos de perceber quais dessas diferenças são importantes na língua que queremos aprender. Diferenças do tipo acima mencionado, “th” versus “s”, são importantes no inglês. Sabemos disto porque se produzirmos um ou outro som estaremos produzindo duas palavras completamente diferentes. Em linguística se diz que são dois fonemas diferentes. Outras diferenças que precisamos aprender a escutar são diferenças de ritmo e intonação. Somente depois de aprendermos a ouvir é que seremos capazes de conscientemente melhorar nossa produção desses sons. Cabe aqui uma observação interessante: existe uma idéia de que algumas pessoas têm maior facilidade para aprender línguas. Um bom ouvido para música às vezes é apontado como causa. Ora, o que é um bom ouvido para música? É a capacidade de reproduzir facilmente um som ouvido. Parece-me, portanto, que além de uma facilidade de escutar variações nos sons, é muito importante a habilidade de imitar sem inibições. Pessoas que “pegam” o sotaque dos outros demonstram um desejo subconsciente de serem parte de um grupo e de serem aceitas via identificação, fatores que sem dúvida contribuem muito para aprenderem das pessoas sua língua bem como sua cultura.

APRENDENDO A SER FLEXÍVEL

Como é de se imaginar, aprender a identificar “novos” sons e produzí-los exige uma maior flexibilidade de nosso aparelho fonador. Nada como tentar produzir os “r”s do alemão para se entender que o exercício é indispensável. Nossos hábitos articulatórios são difíceis de quebrar! Outra dificuldade criada pelo fato de já sabermos uma língua é que nos acostumamos a uma estrutura determinada na gramática e na morfologia. Em português, numa afirmação, colocamos o sujeito e depois o predicado,por exemplo—[artigo + substantivo],[verbo + artigo + substantivo]. Outras línguas têm colocações diferentes, gramáticas e morfologias diferentes. Se quisermos transformar nossa sentença acima em uma pergunta, em português basta mudarmos a intonação. Os que estudaram inglês na escola se lembram de que em inglês o normal é se usar um verbo auxiliar ou então inverter a ordem do verbo e substantivo, além da mudança de intonação (a seguir:). O menino chutou a bola (. ou ? , afirmação ou pergunta dependendo da intonação) The boy kicked the ball. (afirmação) Did the boy kick the ball? (pergunta feita usando-se um verbo auxiliar, cuja intonação também é diferente) Vemos aqui que um segundo fator na aprendizagem de uma língua é que precisamos desenvolver uma flexibilidade. O uso correto dessas colocações diferentes exige treino. E é aí que o missionário se lembra da escola e desanima diante da idéia de repetições enfadonhas. A Dra. Betty Sue Brewster, professora de Aprendizagem de Língua na Cultura na Escola de Missões do Seminário Fuller, na Califórnia, apresenta uma alternativa interessante aos que se encontram desencorajados diante dessa tarefa. Ela sugere que, além de um treino com um auxiliar, essas repetições sejam feitas com um gravador, o que possibilita o treino à qualquer hora. Também sugere que alguns exercícios sejam feitos na comunidade. Por exemplo, a pessoa sairia de casa com uma sentença e um grupo de palavras, escritas num papel. Ao encontrar as pessoas na rua, diria: “Estou aprendendo _________(língua) há ____dias. Tenho algumas palavras escritas nesse papel. Vou falar uma sentença. Por favor diga uma destas palavras e eu vou substituir na sentença. (Aqui a pessoa fala uma palavra e você substitui) Falei certo? Muito obrigado (a)!” *Traduzido e adaptado de LEARN, H-4, p. 126. Estas sentenças ( ou melhor dizendo, o equivalente a elas na cultura) seriam aprendidas de antemão de alguém que estaria auxiliando na aprendizagem da língua, e seriam praticadas com o auxílio do gravador. Já a estrutura da sentença seria treinada no contato com as pessoas, através da substituição da palavra no lugar certo da sentença. Sem dúvida pode ser uma opção bem mais embaraçosa socialmente, no sentido de que a comunidade vai conhecer os nossos erros, que muitas vezes vão parecer engraçados. Mas, por outro lado, o envolvimento com pessoas raramente é monótono! Solucionaria o problema da monotonia das repeticões, e assim proporcionaria um meio de se exercitar as novas estruturas para uma maior flexibilidade nesta área. Flexibilidade é portanto uma qualidade que precisamos possuir de maneira a expressarmos em estruturas diferentes e sons diferentes aquilo que queremos dizer.

APRENDENDO VALORES NOVOS

Se nossa tarefa se limitasse a conseguirmos os dois tipos de flexibilidade acima mencionados as coisas seriam bem mais fáceis. É que, voltando à idéia de que temos de comunicar de maneira relevante na cultura, precisamos também do tipo de flexibilidade que nos capacita a compreender os valores dessa cultura a que nos propomos ministrar. Temos de compreender o modo como essa língua é usada em sociedade. Alguns exemplos que vêm à mente são, em primeiro lugar, o uso de palavras com significado específico em certos contextos. Como ilustração, quando minha família começou a conhecer meu marido, que é americano, um dia nós o convidamos para assistir televisão. Lá pelas nove horas, ele disse que já ia embora. Minha mae, como boa brasileira disse: “É cedo!” Ele, não querendo quebrar nenhum costume desconhecido, ficou um pouco mais. A cena se repetiu até mais ou menos meia-noite, quando ele desconfiou que o significado da afirmacão era uma questão de educacão. É verdade que a estas alturas o “É cedo” deveria estar bem mais fraco. Outro exemplo é uma questão controvertida atualmente nos Estados Unidos. É a questão do uso de linguagem inclusiva. Existe, devido ao movimento feminista, um número crescente de mulheres que se ofendem pelo uso de palavras como “irmãos” para homens e mulheres. Por isso, mais pessoas têm usado “irmãos e irmãs” (ou até invertendo a ordem para “irmãs e irmãos”) nas igrejas de modo a não ofendê-las. No primeiro caso o missionário teria que aprender o uso de certas expressões de maneira a saber se comportar na sociedade. No exemplo acima, o risco de ofender alguém não seria tão grande. No segundo caso, o missonário precisaria compreender que se quisesse comunicar a um certo grupo, teria que usar palavras específicas, de modo a não ofender. Aprender a usar a língua no contexto social é indispensável à comunicação. Para isso, é necessário que tenhamos sempre a atitude de quem veio com dois objetivos: aprender e servir. Compreender como as pessoas se relacionam em sociedade e se submeter a essas regras de relacionamento não é tarefa fácil. O que é social geralmente é coercitivo e sem explicações. É assim porque é assim, produto de costumes e história que se misturam em processo cultural. Uma atitude de crítica ou de saudosismo é compreensível, já que geralmente somos socializados em nossa própria cultura de maneira absoluta, mas é também pouco produtiva, para não dizer destrutiva à comunicação, se justificarmos essa atitude e a deixarmos estabelecer raízes. Comunicar é se colocar em pé de igualdade, se colocar em comum, o que é impossível se concentrarmos nossas atenções nas diferenças entre as culturas, e na improbabilidade de nos adaptarmos às exigências de uma re-socialização.

MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

O missionário é sem dúvida um privilegiado no que tange a aprender outra língua. Afinal não é qualquer um que pode ir morar onde se fala a língua que se quer aprender. Ele tem a oportunidade de conhecer a língua do dia a dia, no seu contexto próprio. Mas, quando se sabe que é necessário aprender uma língua, surge a pergunta: Como? As opções são várias: ir a uma escola antes de ir para o campo missionário, ir a uma escola no campo missionário, ir para as ruas com um gravador e arranjar alguém para ajudar, ter um professor particular, etc… Qual será a melhor estratégia? Minha opinião é que, uma vez preparado para aprender a língua o missionário deve se envolver logo na comunidade, procurando aprender o necessário para sua comunicação no dia a dia. Para isso pode utilizar a metodologia sugerida pelos Brewster, que mencionaremos a seguir. Porém, como esta preparação nem sempre é possível, o missionário deve decidir qual caminho o atrai mais. Uma pessoa que gosta de ler, gosta de estudar, gosta de escola, poderia procurar um curso recomendado e experimentá-lo. Existem algumas escolas especialmente preparadas para ensinar missionários e que foram estabelecidas exatamente porque os missionários tinham dificuldade de enfrentar a tarefa de aprendizagem de língua sozinhos. É o caso da Escola de Português e Orientação que funciona na JURATEL em Campinas. No entanto, se o objetivo de se aprender a língua é comunicar, qualquer curso deveria ser avaliado quanto sua eficácia em equipar o aluno para logo se relacionar à sociedade no seu dia a dia. O missionário deve se lembrar que estudar não é sinônimo de aprender, e que em questão de língua, a língua que se ensina em escolas é apenas parte e exemplo da língua usada em sociedade. Cabe-lhe portanto a tarefa de utilizar o que aprende na escola e ampliar em comunidade suas habilidades. Se ele puder aprender a língua antes de ir ao campo, terá que adaptar aquilo que aprendeu ao uso em sociedade no campo. Se começar os estudos depois de chegar ao local, terá que separar tempo para se envolver com a comunidade. Uma observação importante é que se vamos trabalhar com etnias não-alcançadas a probabilidade é maior de que não possamos aprender sua língua antes de estarmos em seu meio. É provável também que não haja um “curso,” de maneira que o missionário terá que procurar algum bilíngue que lhe sirva de “professor”, ou alguém que se disponha a ajudá-lo. Havendo ou não um curso ou uma pessoa que tenha alguma idéia sobre o que é necessário ensinar a um novato na cultura, o missionário deveria assumir a responsabilidade de descobrir o que precisa aprender. Esta tarefa foi empreendida por muitos missionários no passado e continua a ser realizada por missionários que sabem da importância de aprenderem bem a língua e por lingüístas de missões como a Wycliffe. Para a aprendizagem através do envolvimento com outras pessoas, seria aconselhável uma preparação, para que a pessoa aprenda uma metodologia e desenvolva uma disciplina. O método proposto em LAMP[2] dos Brewster aparece bem explicado em Português no capítulo 5 de Missiologia, livro de Larry Pate. Os Brewsters sugerem o uso de um auxiliar ou informante e um gravador, e um grande envolvimento com o povo desde o princípio. Estes autores colocam grande importância na posição de dependência do missionário de toda a comunidade para lhe ensinar a língua. Sua teoria é de que pessoas ajudam àqueles que têm uma necessidade, e que portanto se o missionário precisa aprender a língua e o demonstra, a atitude da comunidade lhe será favorável, o que não somente facilitará sua integração, como possibilitará logo de início oportunidade para o ministério. Minha curta experiência com esse método foi muito interessante. Para o curso que estava fazendo de aprendizagem na cultura escolhi aprender Tagalo, língua oficial das Filipinas, da comunidade que vive em Los Angeles. Em primeiro lugar, tive de arranjar uma auxiliar, o que foi fácil por causa da variedade de etnias presentes no seminário Fuller. Marita era uma graça! Quietinha, e sempre sorrindo, eu nunca teria desconfiado que seu pai e irmão tinham sido assassinados nos conflitos de seu país. Conhecê-la já foi excelente. Sua fé e sua disposição para servir me abençoaram. Com ela treinei as primeiras sentenças para comunicar na comunidade: Magandang umaga! (bom dia!) Kumusta ka? (como vai?) Gusto kong matuto ng Tagalo. (eu quero aprender Tagalo) Konti lang ang alan kong Tagalo (só sei um pouquinho de Tagalo) Salamat! (obrigada/o) Bye! (um tchau importado não sei de onde!) Gastei com Marita mais ou menos uma hora para conseguir o que queria comunicar. Depois tive que treinar com o gravador mais algumas horas para pronunciar direito as sentenças e por fim o teste: comunicar ou não nas ruas. Com dois filhos pequenos e um colega, cheguei ao centro de Los Angeles onde há um Centro Comunitário para imigrantes filipinos. Eu estava morrendo de medo e ao mesmo tempo querendo demais comunicar. Era uma grande aventura! Nem tudo deu certo! Já comecei errando a roupa. Vestida de jeans e camiseta sem manga, devo ter sido mal interpretada pelas pessoas daquela cultura conservadora. Um senhor mais velho, ao despedir-se de mim, me deu um beijinho na face. Eu quase caí de costas, mas como não conhecia a cultura, resolvi ignorar o acontecido. Continuei falando minhas sentenças, e quando voltei para casa estava pronta a aprender mais e voltar ao grupo para comunicar outra vez. Com o tempo, aprendi a me vestir para as visitas, pude dizer a algumas pessoas que era brasileira, crente, deixei de ser mal interpretada, pude observar aquela cultura, aquelas pessoas em seu dia a dia, e sinceramente apreciei muito o que vi e experimentei. Até hoje olho para os filipinos de maneira especial, porque senti a acolhida de alguns deles na cidade de Los Angeles. Gostaria ainda de sugerir que aqueles que vão trabalhar em um grupo que não possui sua língua na forma escrita ou que pretendem trabalhar na tradução da Bíblia passassem por um treinamento especial com o Summer Institute of Linguistics ou com a Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM) em Brasília.

QUAL LÍNGUA

Se até aqui tenho enfatizado a língua no contexto da comunidade deveria estar clara a conexão entre comunidade, língua e cultura. Para nos comunicarmos com um grupo de pessoas, uma comunidade, temos de conhecer sua cultura, através de sua língua. Estou repetindo este conceito porque muitas vezes surge a pergunta: Se vou a um país que tem como língua oficial o francês, por exemplo, deveria aprender francês ou um dos “dialetos” locais? Considerando o tipo de associação de língua oficial com a classe que a utiliza bem e com a lembrança que ela traz dos colonizadores que a trouxeram, deveríamos ser capazes de decidir se seu uso seria melhor ou pior. É provável que seja pior. De qualquer forma, se queremos comunicar verdades no nível afetivo, a melhor língua sempre é a língua materna. Em algumas situações, o conhecimento da língua oficial abriria portas ao aprendizado dos dialetos, porque seria mais fácil encontrar algum bilíngüe como auxiliar, mas se o missionário ainda não sabe a língua oficial, o ideal seria concentrar os seus esforços para aprender uma língua de cada vez, morando entre os falantes e participando de seu dia a dia. Uma outra observação sobre essa função da língua oficial como ponte aos dialetos é que em alguns casos se o missionário não souber a língua oficial, mas conhecer alguma outra língua mais usada em todo o mundo, por exemplo o inglês, poderá usá-la. Afinal, será bem mais fácil encontrar alguém que conheça uma dessas línguas e muito mais fácil ter uma língua para qual traduzir do que tentar aprender tudo por encenação e uso de objetos.

CONCLUINDO

Escrevi esse artigo com a intenção de despertar idéias sobre como podemos nos preparar para a aprendizagem de outra língua, tendo em mente as possibilidades apresentadas ao missionário transcultural. Muitas das idéias aqui expostas não são minhas próprias, mas de autores diversos, entre eles os Brewsters, Smalley, Hesselgrave, etc… Eu mesma sou missionária brasileira e bilíngüe, tendo que usar o português ou o inglês, dependendo do ambiente. Em termos de aprendizagem, nunca devemos nos contentar com o que pensamos saber de uma língua. Sempre há possibilidade de se melhorar. Sempre nos expressaremos melhor em uma ou outra língua, dependendo do assunto que tratamos e nossa dedicação a tentarmos compreendê-lo em determinada língua. Portanto, devemos sempre conservar nossa flexibilidade quanto a novos sons, novas estruturas e novas maneiras de se enxergar e interpretar o mundo, de modo a darmos o melhor de nós na comunicação do Evangelho a outras culturas.

NOTAS FINAIS [1] Psico-Linguística e Pedagogia das Línguas, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977. [2] Language Acquisition Made Practical, Pasadena, Lingua House, 1976. ————————– [i] Marta Carriker é missionária brasileira da Igreja Presbiteriana (EUA) desde 1979. Compõe músicas evangélicas brasileiras, e é professora de “Linguística e Aprendizagem de Línguas” para futuros missionários no Centro Evangélico de Missões.


Fonte: http://tradutoresbiblicos.wordpress.com

Author: Missão Venezuela
•14:30

Roberto Dooley, palestra avulsa no CLM, junho de 2003

O adolescente de 16 anos João Ferreira de Almeida, dois anos depois de se converter lendo um folheto evangélico em espanhol, começou a primeira tradução da Bíblia na língua português. Órfão, ensinado em latim dentro da igreja católica, viajando na companhia de um tio, em 1644 ele se encontrou na ilha de Java na Indonésia, que era uma colônia holandesa, mas que pertencera a Portugal, e tinha muitos falantes nativos de português. Como adolescente traduziu os evangelhos e Atos, mas sem acesso nem conhecimento das línguas bíblicas originais, o hebraico e o grego, portanto deixou a tarefa por alguns anos. Anos depois a retomou, quando teve a oportunidade de estudar as línguas originais, e refez a sua tradução anterior. A tradução levou até o fim da sua vida aos 63 anos. Ele morreu antes de terminar o Antigo Testamento (o pesadelo de cada tradutor), e a tradução foi completada por um outro luso-indonesiano. Recebeu bem pouco e só por seu trabalho no Novo Testamento; o pagamento foi de 30 reis, posteriormente aumentado para 50. Fora da comunidade evangélica, ele é pouco conhecido. Se você o procurar na Enciclopédia Barsa, você vai encontrar Almeidas que eram médicos, poetas, escritores, políticos, mas não vai achar João Ferreira de Almeida. Além de ser o primeiro a traduzir a Bíblia em português, foi um missionário na Indonésia, Ceilão (Sri Lanka) e Índia. Almeida era um missionário-tradutor, um dos primeiros depois da reforma. Seu trabalho mudou a história do evangelho no Brasil e em outros países lusofones. Ele não recebeu seu galardão nesta vida, nem viu o fruto do seu trabalho fora de Indonésia, mas galardão tem, sim, e fruto deu.

João Ferreira de Almeida entendeu algo que eu tomo agora como meu tema, que é o seguinte: a Bíblia na língua materna é o elemento mais essencial para o êxito, a longo prazo, no campo missionário, e a história mostra isso. Esse tema, em si, talvez seja um ponto pacífico entre vocês, mas ele tem implicações que podem mudar a sua vida, como mudaram a minha.

A história mostra que, quando missionários levam o evangelho a lugares onde antes ele nunca penetrou, entre outras línguas e culturas, a tradução bíblica é o elemento mais essencial para o seu êxito. Certamente há exceções, mas via de regra, onde a Bíblia não é bem entendida há confusão espiritual (superstição, sincretismo, etc.) e, se existirem igrejas, elas tendem a ser divididas em dois níveis ou camadas: no nível superior, há uma elite eclesiástica que tem acesso à Bíblia, que pontifica e ensina a todos os demais — os do nível inferior — o que eles devem crer. Isso pode ocorrer de propósito ou sem querer; ocorreu durante uma grande parte da história da igreja católica e também em certos trabalhos evangélicos. Mas onde a Bíblia é traduzida na língua do povo, os crentes comuns se tornam nobres, no sentido daquilo que aconteceu na cidade da Beréia, depois que as pessoas ouvirem o evangelho pregado pelo apóstolo Paulo: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17.12). A igreja se torna nobre e forte quando ela basea sua fé diretamente na palavra de Deus.

O meu tema é o segunte: segundo a história, a tradução bíblica é essencial à missão a longo prazo. Esse tema vou apresentar através de três pontos principais, começando com o que aconteceu quando o próprio Deus começou o trabalho evangélico missionário, enviando seu Filho Jesus Cristo.

Ponto 1: Quando Deus enviou Jesus, enviou-o com uma grande pancada de tradução.

Vejam bem, isso é diferente do que afirmar que a tradução é arraigada na encarnação. Isso é um ponto importantíssimo, mas meu ponto aqui não é teológico, mas sim, histórico. Ele tem a ver com tradução que acompanhou a vinda de Jesus a este mundo dois mil anos atrás.

Quando Jesus nasceu na Palestina, o hebraico do AT, como uma língua falada, estava quase morto. Ele era ouvido apenas nos sinagogas e nas escolas dos rabinos. Os judeus palestinos falavam uma outra língua, o aramaico, que é aparentada com o hebraico mas distinta deste. No sinagoga, era necessário que a leitura das escrituras em hebraico fosse seguida de uma interpretação em aramaico, uma prática que já existia na época de Esdras e Neemias: “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia” (Ne 8.8).

No mundo mediterrâneo fora da Palestina, a língua mais usada para o comércio e o estudo era o grego; isso era antes que o latim fosse dominante no império romano. O grego era a língua franca do império. Mas além disso, muitos desses falantes do grego falavam, em casa, uma outra língua local. Então, se a mensagem de Cristo iria ter qualquer impacto pelo mundo afora, não poderia ser no hebraico do AT. Era necessário alguém fazer ajustes lingüísticos. Quem os fez foi o próprio Deus. A maneira que ele os fez é crucial. Ele não os fez ressuscitando o hebraico e fazendo com que todo o mundo o entendesse. Quando Deus enviou Jesus e inaugurou a proclamação do evangelho, ele fez os ajustes lingüísticos através da tradução.

Na tradução, Deus seguiu duas estratégias distintas: uma estratégia usando a língua majoritária ou a língua franca, para alcançar o maior número possível de pessoas; e usou também uma estratégia de língua materna, pela qual cada grupo é alcançado na língua do coração. A estratégia de língua majoritária corresponde à igreja no seu aspecto universal, no qual todos os crentes fazem parte num só corpo e numa só comunhão. A estratégia de tradução na língua materna corresponde à igreja no seu aspecto indígena no senso largo da palavra, que refere ao fato de que, em toda etnia e em toda cultura, as pessoas devem se sentir em casa com o evangelho, ele precisa pertencer à vida delas, tocando toda parte da sua cultura. Nos lugares e épocas onde existe ou existiu a igreja universal sem a igreja indígena, ela tende a ser centrípeta, centralizada, hierárquica, institucional e, no seu estado final, morta. De outro lado, onde existe a igreja indígena sem a comunhão da igreja universal, ela tende a se sentir isolada, esquecida, periférica, sozinha. Então, quando Deus enviou seu Filho Jesus, ele fez os necessários ajustes lingüísticos usando as duas estratégias de tradução — na língua majoritária e também nas diversas línguas maternas.

a. O primeiro passo foi tomado mais de dois séculos antes de Cristo, quando traduziram o AT do hebraico para o grego. Esta tradução foi chamada a septuaginta, pode bem ter sida a primeira tradução de uma obra tão volumosa em qualquer língua. Os judeus usaram a septuaginta durante apenas três séculos, mais ou menos: dois séculos antes da vinda de Jesus e um depois. Por que eles pararam de usá-la? Justamente porque a septuaginta, nas mãos dos cristãos, havia se tornado uma arma muito eficaz na divulgação do evangelho. Até a complementação do NT, a Bíblia da igreja cristã era a septuaginta. Foi isso que os bereianos usaram para verificar se a mensagem de Paulo era verdadeira. E foi através da sua compreensão do AT, na língua grega da septuaginta, que achou que era, de fato, assim. Foi por causa disso, que aconteceu em muitos lugares, que os judeus descrentes começaram a criticar a septuaginta como tradução, e ainda chegaram a dizer que o AT hebraico não poderia ser traduzida a princípio — a mesma posição que mulçumanos bem ortodoxos tomam hoje referente ao Corão. Mas para os judeus descrentes, era tarde demais: durante aquele primeiro século AD, a septuaginta havia servido com muito efeito na divulgação do evangelho. Portanto, o trabalho missionário cristão começou dentro essa breve janela de tradução bíblica judaica.

b. Jesus evidentemente ensinou no aramaico. Quando os soldados romanos estavam livrando o apóstolo Paulo do alvoroço dos judeus descrentes no templo, ele parou na escada e lhes falou assim: “‘Irmãos e pais, ouçam agora a minha defesa.’ Quando ouviram que lhes falava em aramaico, ficaram em absoluto silêncio” (At 22.1-2, NVI). Eles prestaram atenção. Aconteceu o mesmo quando Jesus ensinou o povo: ele ensinou no aramaico, e eles escutaram. Fez, sim, parte da sua encarnação, usar a língua do povo. Mas quando os apóstolos chegaram ao ponto de escrever os evangelhos e as palavras de Cristo, ficaram diante de uma questão lingüística: em que língua escrever? O hebraico do AT era quase morto, o aramaico era limitado à Palestina e o oriente médio antigo. Todos estes países pertenciam, queira ou não, ao império romano, cuja língua franca era o grego. Portanto, para o maior número possível poder entender, escreveram o NT em grego. (Se eles basearam seus evangelhos num ou outro documento em aramaico, isso não é relevante aqui.) O importante aqui é o seguinte: para eles escreverem em grego, foram obrigados a traduzir as palavras de Cristo do aramaico. É o único caso que conhecemos das escritas sagradas originais de qualquer religião serem numa língua diferente da do seu fundador. No NT original, grego, as palavras de Cristo já ficaram em forma traduzida. Portanto, no AT e no NT, na língua grega, ilustram a estratégia de tradução em língua majoritária. Deus estava anunciando o evangelho ao mundo, da forma mais abrangente possível.

c. O grego era a língua franca do comércio e da cultura, mas uma grande parte dos seus falantes falavam, em casa, uma outra língua local. Deus não negligenciou essas outras línguas, e sim, fez uma coisa bem especial para elas quando enviou seu Santo Espírito no dia de pentecostes. O aniversário da igreja foi sinalizado por uma enxurrada/saraivada de tradução – neste caso, tradução oral. Lemos em Atos 2 “Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (vv 9-11). Poucos dias antes disso, Jesus havia dito aos seus discípulos que iriam receber o poder do Espírito Santo para serem suas testemunhas até os confins da terra, e logo depois, em Atos 2, Deus inaugurou a sua campanha missionária traduzindo seu testemunho, através do poder do Espírito, nas línguas maternas dos seus ouvintes.

Então, temos a tradução do AT do hebraico para o grego, a tradução das palavras de Cristo do aramaico para grego (estas duas traduções sendo feitas na estratégia de língua majoritária), e também temos, no dia de pentecostes, a primeira proclamação pública do evangelho, traduzida pelo próprio Espírito Santo nas várias línguas maternas. É isso o que eu quero dizer quando digo que Jesus veio junto com uma pancada/“chuva” de tradução. Isso não é surpreendente, se a tradução é essencial para o trabalho missionário, porque foi exatamente isso que Deus estava iniciando, enviando Jesus e inaugurando a proclamação do evangelho.

Nestes eventos todos, podemos fazer uma observação sobre a atitude de Deus quanto às línguas. Parece que, para Deus, não importa qual língua é usada, pode ser uma ou outra, com uma pequena ressalva que fica como uma constante: precisa ser sempre numa língua que os ouvintes usam e entendem bem. Fazemos uma outra observação: No cristianismo, em contraste com as outras religiões, não há um lugar santo para todo o mundo fazer romaria ou peregrinação, nem existe uma língua santa de status elevada. (Por isso, não têm muito sentido as piadas sobre a língua que vamos falar no céu.) Todos os lugares, todas as línguas podem ser santas ao Senhor, todas podem ser usadas para os Seus propósitos.

Ponto 2: Ao longo da história das missões, a tradução bíblica tem sido um passo chave para o evangelho pegar em novas línguas e culturas.

a. Você reconhece quanto deve ao Lobinho? Ulfilas ou Wulfila ‘Lobinho’ (311-382) nasceu entre os godos, uma tribo extremamente bélica, num lugar na Europa onde atualmente fica o país da România. Anos antes, seus avôs haviam sido levados para lá como cativos. Mandaram Lobinho para Constantinopla para estudar, onde ele aprendeu latim e grego. Ele também conheceu o evangelho e se converteu a Cristo. Resolveu, então, voltar como evangelista aos godos. Ele elaborou um alfabeto para sua língua — que, até então, havia sido apenas uma língua oral — e traduziu a Bíblia. A tribo inteira se converteu e, a partir deles, a fé se espalhou para outras tribos européias que eram ancestrais dos alemães, dos ingleses e de outros povos. Na geração após o Lobinho, os mesmos godos conquistaram Roma. Uma coisa boa foi que Roma foi conquistada por bárbaros cristãos, o que aconteceu é que o cristianismo não se extinguiu com a extinção do império romano. No seu território original ele se encolheu bastante, e poucos séculos depois a parte oriental do antigo império romano foi subjugada pelo Islã mas, através dos godos, o evangelho já tinha um novo centro na Europa do norte, onde Islã não o alcançou, e de onde, séculos depois, o evangelho iria surgir com uma renovada força e clareza, na reforma alemã. Obrigado, Lobinho.

b. Mil anos depois do Lobinho, João Wycliffe e seus associados traduziram a Bíblia pela primeira vez em inglês (1383). Wycliffe não tinha o benefício de bons manuscritos nas línguas originais — ele traduziu do latim — e, naquela época, não havia imprensa, nem xerox. Portanto, todas as primeiras Bíblias em inglês eram copiadas à mão. Mas estas cópias, os seguidores de Wycliffe levaram pelas estradas da Inglaterra toda, pregando a mensagem em inglês. Muitos deles foram mortos, mas as escrituras na língua materna não podiam ser tão facilmente extinguidas. No seu tempo seguiu a reforma inglesa, e depois a emigração religiosa para a América. Obrigado, João Wycliffe e seus colegas.

c. Em maio de 1521, Martinho Lutero foi levado perante um tribunal eclesiástico, presidido pelo Imperador Carlos V, na cidade de Worms. Dntre as acusações contra ele foram citadas as seguintes: que ele perverteu o ensino da igreja sobre a santa ceia, que ele negou a autoridade do papa, que ele era um cismático e que ele reconheceu apenas a autoridade das escrituras. Eram acusações gravíssimas, e a defesa de Lutero caiu em ouvidos surdos. No fim dos procedimentos, três coisas ocorreram: Lutero foi condenado, seus livros foram queimados em praça pública, e ele mesmo foi apreendido por amigos que o levaram ao castelo de Wartburg. Até o fim do ano em curso, ou seja, num período de seis meses, ele traduziu o NT para o alemão. Uns anos depois, ele terminou o AT também. O que eu quero destacar aqui, é que Lutero respondeu às acusações de heresia, traduzindo as escrituras na língua do povo. Sendo Lutero, obviamente ele respondeu de outras formas também. Mas sua melhor resposta, a longo prazo, foi a Bíblia em alemão, porque, através dela, ficou claro, para todos os nobres “bereianos” de fala alemã, o que era heresia e o que era evangelho puro. Se você quer que aquele povo onde você trabalha entenda bem o evangelho, se você quer evitar erro e confusão, então a estratégia melhor, a longo prazo, não será ficar ensinando uma determinada teologia, por mais certa que seja, mas será a tradução das escrituras na língua do povo.

d. João Eliot era um jovem inglês formado na universidade de Cambridge para ser pastor. Ele foi para América no ano1631, um ano depois da fundação da colônia de Massachusetts e da cidade de Boston. (Isto se deu três anos após o nascimento, em Portugal, de João Ferreira de Almeida.) A João Eliot foi entregue uma igreja na vila de Roxbury perto de Boston. Essa igreja ele pastoreou fielmente durante 58 anos. Durante este tempo, ele começou a trabalhar com índios da tribo massachusetts que moravam por perto. Ele aprendeu sua língua, fez uma descrição gramatical, pregou o evangelho e traduziu a Bíblia. Ela foi publicada no ano1663, a primeira Bíblia em qualquer língua a ser publicada na América. (Naquele mesmo ano, Almeida voltava da Índia à Indonésia, onde começou a re-traduzir a Bíblia em português usando as línguas bíblicas originais.) Cerca de 4000 índios massachusetts se converteram; foram conhecidos pelo nome “índios que oram”. Poucos anos depois, ainda durante a vida de João Eliot, a tribo foi exterminada quase completamente, por guerra e doenças, como tem acontecido muitas vezes na América do Norte e do Sul. A notícia boa é que antes desta tribo desaparecer, muitos aceitaram Jesus como salvador, para o crédito eterno de João Eliot.

e. A era das missões modernas é geralmente datada como iniciando com o trabalho do inglês William Carey, batista e sapateiro que foi á Índia um pouco mais de 200 atrás. Lá, ele traduziu a Bíblia para várias línguas. Na verdade, o primeiro missionário protestante na Índia foi mesmo João Ferreira de Almeida, 130 anos antes de Carey. A idade das missões modernas, seja iniciada com Almeida ou com Carey, começou com tradução bíblica. Posteriormente, algumas agências missionárias ficaram dentro da estratégia da língua majoritária, trabalhando em lugares onde a Bíblia já existia; portanto, elas negligenciavam a estratégia da tradução na língua materna, que também fazia parte do modelo que Deus usou na vinda de Cristo. Aí, quando surgiu o movimento moderno da tradução bíblica no século vinte, ela ressuscitou a estratégia da tradução na língua materna e a aplicou à tarefa ainda inacabada. Estamos agora mais ou menos 70 anos dentro deste movimento. Ele começou com três eventos importantes:

· O Instituto Lingüístico Summer realizou um programa de treinamento lingüístico em 1935 e, depois, quatro dos cinco formandos foram ao México, junto com o diretor, Tio Cam Townsend, para começar o trabalho de tradução. Destacamos aqui a visão concedida a Tio Cam pela tradução da Bíblia em todas as línguas maternas do mundo.

· Em 1946 foi inventado o primeiro computador, o ENIAC. Antes do computador, para cada tradução do NT era necessário datilografá-la 25 vezes, em média, e cada vez, além dos erros existentes serem corrigidos, novos erros de datilografia eram introduzidos. Hoje em dia, tradutores da Bíblia no mundo inteiro estão convencidos de que Deus mostrou essa invenção ao homem principalmente em beneficio do trabalho deles.

· Foi nesta mesma época e uns anos depois que a lingüística moderna começou a descobrir o que fazer com a sintaxe. De fato, o estudo da sintaxe já existia desde tempos antigos, mas seu tratamento não ia muito além de classes de palavras e usos retóricos de sentenças. Sua aparência na lingüística moderna pode ser datada pelo primeiro livro importante de Noam Chomsky, Estruturas sintáticas (1957). Em 1965 veio um segundo livro Aspectos da teoria da sintaxe, mas dois anos antes, Joseph Greenberg havia começado a segundo round da revolução sintática moderna com seu artigo, “Universais gramaticais com atenção especial à ordem de elementos significativos” (1963), ou seja, apenas 40 anos atrás é que a lingüística moderna passou a ter mais rigor e argumentação científica, não apenas na morfologia e fonologia como também na sintaxe, começou a sair do seu campo original extremamente restrito, na análise do inglês e poucas outras línguas européias, e aceitou o desafio de dar conta a todas as línguas humanas.

Portanto, no ponto da história onde nos encontramos atualmente, há três armas principais — a visão pela tradução em cada língua materna, o computador e a lingüística moderna com seus métodos e alcance global — que Deus está usando na tarefa ainda inacabada de tradução bíblica.

f. Voltemos mais uma vez na história para ver o outro lado da moeda, ou seja, um lugar onde a Bíblia não foi traduzida na língua do povo, mas chegou em forma de uma língua estrangeira. Trata-se da Irlanda. Já que meu sobrenome é irlandês, os Dooley têm uma parte da sua história ali (e outra parte com os índios cherokee da Oklahoma). No século depois que Lobinho traduziu a Bíblia na língua dos godos, Santo Patrício chegou na Irlanda com as escrituras em latim. Patrício, como Lobinho, estava voltando para o lugar onde havia antes morado como cativo, mas enquanto Lobinho seguiu a estratégia de tradução na língua materna, Patrício seguiu a estratégia que usava apenas a língua majoritária. Quando as escrituras são introduzidas numa língua estrangeira, a cultura pode ser radicalmente mudada, mas uma mudança se torna obrigatória que não tem nada a ver com o evangelho em si. Já que as escrituras não passaram por uma mudança lingüística, é necessário que O PRÓPRIO POVO passe por uma mudança lingüística. Se é para as pessoas entenderem e usarem as escrituras, elas são obrigadas a adquirir uma outra língua. Seria uma forma de proselitismo lingüístico: os convertidos são obrigados a assimilar uma característica secundária do missionário — a língua dele — para atuarem como convertidos no sentido pleno. O proselitismo lingüístico é contrário às melhores práticas missiológicas e também às conclusões do conselho de Jerusalém registradas em Atos 15. Naquela ocasião, novos convertidos dentre os gentios não foram obrigados a serem prosélitos do judaísmo através da circuncisão ou obediência à lei de Moisés. O Pastor Tiago articulou o princípio assim: “Portanto, julgo que não devemos pôr dificuldades aos gentios que estão convertendo a Deus” (v 19, NVI). O proselitismo lingüístico é uma dificuldade desnecessária para novos convertidos. Já a tradução na língua materna torna em realidade o que o apóstolo Paulo disse em Romanos 10.8: “A palavra está perto de você”. Quando a mensagem fica numa língua estrangeira, a palavra permanece distante, difícil. É tão difícil que, nessas circunstâncias, o que geralmente acontece é que o povo não consegue adquirir a língua da Bíblia e sua compreensão das escrituras fica subdesenvolvida, e os poucos que conseguiram as escrituras se tornam uma elite e ocupam o nível superior de uma hierarquia cristã. Foi isso o que aconteceu na Irlanda nos séculos após Santo Patrício. O país foi radicalmente cristianizado e até exportou a cristianismo e a erudição clássica por toda parte da Europa. Mas na Irlanda mesmo, apenas a elite cristã – principalmente os monges – tinham condições de conhecer as escrituras. O povo comum nunca aprendeu latim ou conseguiu entender as escrituras em qualquer língua, até que, mais de mil anos após Patrício, a língua inglesa foi introduzida. A Irlanda é um lugar de muitas tragédias. Uma delas é que a religião — tanto protestante quanto católica — tem se tornado um rótulo político, estreitamente identificada com metas políticas. Mas outra tragédia subjaz à primeira: as escrituras nunca chegaram na língua gaélica-irlandesa trazendo uma reforma espiritual. Ao invês disso, elas permaneceram sendo acessíveis somente em latim, dessa forma inoculando o povo contra a reforma, que nunca houve. 12 séculos depois de Patrício, a Bíblia foi finalmente traduzida em gaélico-irlandês (1689), mas essa foi uma tradução protestante que nunca penetrou na igreja católica. Nunca foi feita uma tradução católica. Na época presente, é bastante tarde: apenas 13% do povo entende irlandês e mesmo estes falam principalmente o inglês. Até hoje, a missa é rezada em latim. Como diz o teólogo africano Kwane Bediako: “Ter as escrituras durante muitos anos, a não ser que elas existam na língua materna, não produz muitas conversões ou muita maturidade”.

Ponto 3: Não é tarde demais para ser um portador da palavra.

Em Ap 5.9, há um hino a Cristo com as palavras, “com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”. A tarefa inacabada pode ser expressa nestes termos: A palavra ainda precisa chegar a todos os que o sangue comprou. A compra foi feita por Jesus através do sangue; a nossa parte é levar a palavra.

Meu tema, que a tradução bíblica é essencial para o êxito, a longo prazo, das missões, pode ser óbvio. Para mim o é. Quando um grupo tem o evangelho, mas ainda não tem as escrituras na sua língua, está tentando viver a vida cristã sem a palavra de Deus. Quanto mais tempo passar assim, mais difícil será aprender usar as escrituras na vida diária e na vida da igreja. Às vezes, ouvimos assim: “Sabemos que a tradução da Bíblia é bem importante, mas outras coisas são mais urgentes.” O que a história ensina é o seguinte: A importância da tradução deve trazer para nós a sua própria urgência, como ela trouxe para aquele adolescente, falante do português, três séculos e meio atrás, na ilha da Indonésia.

Referências:

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